Outro dia, estava conversando com um amigo sobre a recente reeleição do Presidente Lula e seus programas sociais. Nossas visões eram bem distintas, porém sempre respeitei diferentes opiniões, desde que embasadas. É isso que eu falo, antes discutir com um tucano embasado do que um esquerdista ignorante. Mas no final ele soltou a velha máxima da direita em que o capital brota e a méritocracia só vale para aqueles que trabalharem e forem bem-sucedidos (neste caso até citou exemplos próximos, o que é bem característico também...). Acabei defendendo os programas sociais do governo e a tentativa de melhorar a distribuição de renda no país. Terminamos os chopps, um pra esquerda, outro pra direita, fui pra casa e li o artigo de Andrea Bambino, confirmando uma de minhas colocações. Segue abaixo o texto na íntegra!
Fome permanece invariável desde 1990 apesar de o mundo estar mais ricoPor Andrea Bambino, ROMA, 30 out (AFP)
O número de pessoas que passam fome não diminuiu desde o início dos anos 1990, apesar de "o mundo estar mais rico hoje do que há 10 anos", denunciou nesta segunda-feira a FAO em seu informe anual sobre o estado da insegurança alimentar. As últimas estimativas, que remontam ao binômio 2001-2003, constatam um grave fracasso, com 854 milhões de pessoas que ingerem menos de 1.900 calorias diárias, sendo que 820 milhões delas estão concentradas nos países em desenvolvimento.Em 1996, a Cúpula Mundial da Alimentação, celebrada em Roma, fixou para 2015 o ambicioso objetivo de reduzir à metade a fome no mundo em relação ao período de 1990-92, o que equivaleria a 412 milhões de pessoas desnutridas."Dez anos mais tarde, enfrentamos uma triste realidade: não conseguimos nenhum resultado", sublinhou o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, Jacques Diouf.
A redução de três milhões registrada nos países em desenvolvimento, que passou de 823 para 820 milhões, é tão insuficiente que pode ser considerada como "um erro estatístico", acrescentou num preâmbulo do informe."As tendências mais recentes são realmente preocupantes", lembrou a FAO, que enfatiza uma alta de 26 milhões de pessoas desnutridas entre 1995-97 e 2001-03, um claro retrocesso em relação à década de 80, quando houve uma redução de 100 milhões.E isso apesar de, como lembra Diouf, "o mundo estar mais rico hoje do que há 10 anos" e "a comida ser mais abundante". Por isso, só falta "vontade política para mobilizar recursos a favor dos que têm fome".
As previsões da FAO para o futuro são mais otimistas, com uma estimativa de 582 milhões de pessoas desnutridas em 2015.De toda maneira, é preciso fazer uma leitura exaustiva do informe deste organismo da ONU, que encobre situações muito díspares. O número absoluto e a proporção de pessoas que sofrem de desnutrição na Ásia e no Pacífico caiu entre 1990-92 e 2001-03 devido sobretudo à influência dos casos da China e do Vietnã, cujas áreas rurais se beneficiaram do crescimento agrícola.A América Latina constitui outro exemplo similar. "A maioria dos países da América do Sul progrediu", mas foi registrada uma alta "sensível" da fome na Venezuela e se constataram fracassos "na maior parte dos países da América Central, em particular na Guatemala e no Panamá", adverte a FAO.
Na África subsaariana, a Aids, as guerras e as catástrofes naturais "obstruíram as medidas adotadas para a luta contra a fome", especialmente no Burundi, na Eritréia, na Libéria e em Serra Leoa.O caso da República Democrática do Congo é, segundo a FAO, alarmante. Neste país, cenário de uma guerra regional na qual estiveram envolvidos sete Estados entre 1998 e 2002, o número de pessoas que sofrem de desnutrição triplicou entre 1990-92 e 2001-03, passando de 12 milhões para 36 milhões, ou seja, 72% da população.
Para modificar esta situação, a FAO recomenda investimentos maciços na agricultura, e de forma mais geral nas áreas rurais, onde a fome causa estragos."O setor agrícola é com freqüência um motor de crescimento para as economias rurais e o aumento da produtividade agrícola" pode aumentar a quantidade de produtos alimentícios, reduzir seu preço e também "dinamizar a economia local ao gerar demanda para bens e serviços" não agrícolas produzidos pela população local, lembra o informe.A FAO insiste no "círculo vicioso da fome e da pobreza" ao afirmar que a fome não é unicamente uma conseqüência da pobreza, mas também uma de suas causas. É que a fome "prejudica gravemente a saúde e a produtividade das pessoas" e dificulta os esforços da população para sair da pobreza.