Críticas suburbanas de uma sociedade sub humana

quinta-feira, julho 26, 2007

Aerotemporal, tudo ao reverso !


Acidente, crise aérea, e pronto. Está formado o cenário. Vem acusações, demissões, contratações, afirmações, etc...

Nunca vi tanto engenheiro neste período. Até nos botequins onde costumo me refugiar mudou-se o assunto dominante. Deixaram as análises futebolísticas sobre impedimentos, discussões sobre os grandes times e demonstrações diversas de cultura inútil, muitas vezes alimentadas pela mídia de mictório, para analisarem os "groovings" da pista de congonhas. Quase que dois marmanjos, um tanto quanto calibrados, se esbofeteiam porque um achava que era problema de "grooving" e o outro do reverso. Eu comecei a achar é que estava tudo ao reverso, isso sim.

Passada a euforia inicial, analisado alguns fatos, tendo a acreditar que tudo isso foi decorrente de diversos fatores que juntos culminaram nesta fatalidade. Citaria entre eles a questão dos problemas no avião, da infra de congonhas, um possível erro do piloto e uma demora incessante na resolução deste impasse aéreo, este talvez mais uma herança maldita que deve-se resolver com competência, planejamento e ter data para acabar.

Porém, mais uma vez, gostaria de repudiar a posição da imprensa que de forma criminosa tentou eleger um culpado imediato, tentando cortar cabeças logo de cara, sem perceber que com isso foi se distanciando de sua tão desejada credibilidade.

Lembrei de uma piada, onde o paciente queixava-se para o seu médico em busca de uma solução para diversas partes do seu corpo, já que urrava de dor para cada parte que apontava, não percebendo que seu dedo é que estava quebrado.

quarta-feira, julho 25, 2007

A culpa é de quem?

por Mino Carta

De Hong Kong liga Jean Paul Lagarride, aquele repórter francês que cobriu todas as guerras e as revoluções dos últimos cinqüenta anos. Todas, sem exceção. Pergunta, de abrupto: “Vai ter golpe?” Finjo cair das nuvens, notei na voz dele um toque de volúpia. “Golpe onde? Na Conchinchina?” Retruca, tenso: “Ali mesmo, nesta tua terra tropical, que diabo!” “Coisas da Cassandra”, digo eu, “e você sabe como é Cassandra... Ontem falei com ela, continua a mesma”. “Escuta”, volta ele à carga, “estou lendo os editoriais do Estadão, do Folhão, do Globo, as colunas das moças gárrulas, ouço a Globo, e fico de prontidão, lembrei-me d e1964”. Explico que os tempos mudaram, que os militares estão mais contidos e que a mídia especializou-se em produzir buracos n’água. “Mas este acidente é culpa do Lula, não é?”, retruca, com leve irritação. “E por acaso Lula era o piloto?”, respondo. “Mas se a pista desmorona, ao menos isso, é culpa dele”, sentencia. “De fato”, anuncio, “vi o Lula a caminhar pela avenida Washington Luis armado de pá”. A irritação dele fremente: “Você não leva as coisas a sério. Ao menos esse presidente iletrado poderia ter previsto as chuvas”. “De fato, ele já foi cotado para substituir o homem do tempo”, informo. Jean Paul está na iminência de subir a serra: “Se o Brasil não está pelo menos em segundo lugar no Pan, é culpa dele sim senhor. E se os juízes roubam contra os atletas canarinhos, de quem é a culpa? E se o real ainda não se equipara ao dólar? E se a safra de soja não for tão boa como a do ano passado?” Murmuro: “Sim, sim, e se apenas cinco por cento ganha de 800 reais para cima por mês?” “Arminio Fraga, de hábito tão otimista, pede cautela com o País, diz que o crescimento médio dos últimos anos, apesar do bom ambiente internacional, tem sido baixo, fazer negócios no Brasil ainda é difícil. E a culpar seria de quem?” Nunca ouvi um Jean Paul tão irrequieto. “Ah, sim o Arminio”, comento, “às vezes perco o sono ao imaginar o sofrimento dele, parceiro de desgraça de todos os ex-senhores do Banco Central, quando deixam o posto. Aí está, sofrem, sofrem demais, não conseguem mais levar uma vida, digamos assim, normal”. “Certo, certíssimo. E a culpa, de quem é?” “Liga para Cassandra”, proponho, “você precisa de combustível”. “É o que vou fazer”, diz ele. E desliga.