Críticas suburbanas de uma sociedade sub humana

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

A volta dos que não foram!


O Blog está de volta!

Em alto e bom tom!

Novidades em breve...

sexta-feira, setembro 28, 2007

Golias, um gigante!

Assistindo a "Escolinha do Golias", num dos reprises que o SBT passou, me vi rindo como nunca. Aliás rindo como sempre, como sempre ri com o Golias, esse gênio do humor. Horas depois, em um outro programa, anunciava que se tratava do segundo ano sem o mestre, a quem presto minha humilde homenagem.


quinta-feira, julho 26, 2007

Aerotemporal, tudo ao reverso !


Acidente, crise aérea, e pronto. Está formado o cenário. Vem acusações, demissões, contratações, afirmações, etc...

Nunca vi tanto engenheiro neste período. Até nos botequins onde costumo me refugiar mudou-se o assunto dominante. Deixaram as análises futebolísticas sobre impedimentos, discussões sobre os grandes times e demonstrações diversas de cultura inútil, muitas vezes alimentadas pela mídia de mictório, para analisarem os "groovings" da pista de congonhas. Quase que dois marmanjos, um tanto quanto calibrados, se esbofeteiam porque um achava que era problema de "grooving" e o outro do reverso. Eu comecei a achar é que estava tudo ao reverso, isso sim.

Passada a euforia inicial, analisado alguns fatos, tendo a acreditar que tudo isso foi decorrente de diversos fatores que juntos culminaram nesta fatalidade. Citaria entre eles a questão dos problemas no avião, da infra de congonhas, um possível erro do piloto e uma demora incessante na resolução deste impasse aéreo, este talvez mais uma herança maldita que deve-se resolver com competência, planejamento e ter data para acabar.

Porém, mais uma vez, gostaria de repudiar a posição da imprensa que de forma criminosa tentou eleger um culpado imediato, tentando cortar cabeças logo de cara, sem perceber que com isso foi se distanciando de sua tão desejada credibilidade.

Lembrei de uma piada, onde o paciente queixava-se para o seu médico em busca de uma solução para diversas partes do seu corpo, já que urrava de dor para cada parte que apontava, não percebendo que seu dedo é que estava quebrado.

quarta-feira, julho 25, 2007

A culpa é de quem?

por Mino Carta

De Hong Kong liga Jean Paul Lagarride, aquele repórter francês que cobriu todas as guerras e as revoluções dos últimos cinqüenta anos. Todas, sem exceção. Pergunta, de abrupto: “Vai ter golpe?” Finjo cair das nuvens, notei na voz dele um toque de volúpia. “Golpe onde? Na Conchinchina?” Retruca, tenso: “Ali mesmo, nesta tua terra tropical, que diabo!” “Coisas da Cassandra”, digo eu, “e você sabe como é Cassandra... Ontem falei com ela, continua a mesma”. “Escuta”, volta ele à carga, “estou lendo os editoriais do Estadão, do Folhão, do Globo, as colunas das moças gárrulas, ouço a Globo, e fico de prontidão, lembrei-me d e1964”. Explico que os tempos mudaram, que os militares estão mais contidos e que a mídia especializou-se em produzir buracos n’água. “Mas este acidente é culpa do Lula, não é?”, retruca, com leve irritação. “E por acaso Lula era o piloto?”, respondo. “Mas se a pista desmorona, ao menos isso, é culpa dele”, sentencia. “De fato”, anuncio, “vi o Lula a caminhar pela avenida Washington Luis armado de pá”. A irritação dele fremente: “Você não leva as coisas a sério. Ao menos esse presidente iletrado poderia ter previsto as chuvas”. “De fato, ele já foi cotado para substituir o homem do tempo”, informo. Jean Paul está na iminência de subir a serra: “Se o Brasil não está pelo menos em segundo lugar no Pan, é culpa dele sim senhor. E se os juízes roubam contra os atletas canarinhos, de quem é a culpa? E se o real ainda não se equipara ao dólar? E se a safra de soja não for tão boa como a do ano passado?” Murmuro: “Sim, sim, e se apenas cinco por cento ganha de 800 reais para cima por mês?” “Arminio Fraga, de hábito tão otimista, pede cautela com o País, diz que o crescimento médio dos últimos anos, apesar do bom ambiente internacional, tem sido baixo, fazer negócios no Brasil ainda é difícil. E a culpar seria de quem?” Nunca ouvi um Jean Paul tão irrequieto. “Ah, sim o Arminio”, comento, “às vezes perco o sono ao imaginar o sofrimento dele, parceiro de desgraça de todos os ex-senhores do Banco Central, quando deixam o posto. Aí está, sofrem, sofrem demais, não conseguem mais levar uma vida, digamos assim, normal”. “Certo, certíssimo. E a culpa, de quem é?” “Liga para Cassandra”, proponho, “você precisa de combustível”. “É o que vou fazer”, diz ele. E desliga.

quarta-feira, junho 06, 2007

Contra "tudo isso aí"

Muito se comenta sobre a tal invasão à reitoria da USP. Mais do se deveria, creio eu.

Mas afinal o que pensar? É justo ? Como resolver esta situação? E qual das situações se as reividicações só aumentam? Já são mais de 15 !!!

Sinceramente, não sei, mas li uma frase em uma matéria da Revista Época que define muito do que penso:

"A autonomia universitária é uma causa digna. Mas a greve dos alunos da USP virou birra de jovens mimados"

É isso que eu falo!

terça-feira, maio 29, 2007

A discussão é válida !



Muito se falou esta semana sobre a recisão da concessão da RCTV na Venezuela. Não poderia deixar de comentar essa notícia, pois além do fato em si, existe também sua repercussão pelo mundo, o que nos faz repensar ainda mais o papel da imprensa e sua tal "imparcialidade".

Sim, confesso que fiquei assutado quando vi que realmente tinha saido do ar a tal televisão, mas muito mais por não acreditar que iriam levar adiante a resolução do que preocupado com a liberdade de imprensa no país.

O que me assustou realmente foi como esta notícia foi reproduzida nos países e principalmente no Brasil, onde deixaram de averiguar os fatos e simplesmente adotaram um lado talvez mais conveniente de enxergar.

Estava quase preparado para escrever um pouco do passado recente desta rede televisiva, sua atuação na Venezuela e situações interessantes que vi em minha visita ao país quando me deparei com o artigo abaixo ("Porque defender a RCTV?") que descreve muitas variáveis importantes para esta discussão e que vale a pena ser lido por quem quer se aprofundar no assunto.

Também vale a pena assistir o documentário irlandês feito sobre o golpe em 2002 que tentou derrubar Chavez e a participação da RCTV neste episódio.
Seguem links para alguns trechos:
http://www.youtube.com/watch?v=7n3SamkYq8U

Pode não parecer, mas ainda não tenho opinião formada sobre o caso, porém tenho certeza que esta discussão é válida sim e que apenas afirmar que se trata de uma ação ditatorial é mais uma vez tentar simplificar o assunto e se esconder atrás de uma falsa busca por uma imparcialidade democrática ingênua.

Por que defender a RCTV?

Efeito Boomerang

VENEZUELA
Por que defender a RCTV?


Por Elaine Tavares em 8/5/2007 para o Observatório da Imprensa

Quem já esteve na Venezuela, sabe muito bem: liberdade de opinião é tudo o que há. Nas rádios e emissoras de televisão comerciais, o presidente Hugo Chávez é xingado, humilhado, destratado e desmoralizado. As palavras usadas pelos jornalistas são de uma violência sem par. E ainda assim, ali estão, eles e elas, a disseminar suas diatribes, sem que ninguém os impeça.

Não há censura de espécie alguma. Os grandes jornais fazem oposição ao governo, ou melhor, a Chávez, usando argumentos que muito mais ofendem a pessoa do presidente do que o governo em si. É um negócio inimaginável em qualquer outro país do mundo. Se isso acontecesse nos Estados Unidos, por exemplo, duvido que os jornalistas não fossem presos ou banidos para sempre. Pois na Venezuela eles estão livres para falar.

Agora, o governo decidiu uma coisa que também acontece no chamado "mundo livre", todos os dias. Não vai mais renovar a concessão de uma rede de televisão do país, a Radio Caracas Televisión, alegando que a mesma não cumpre a lei. E o que diz a lei? Que as redes de televisão, assim como as de rádio, são um serviço público e, como tal, devem servir à população com informações de interesse de todos, e não só de alguns. É uma lei muito parecida com as leis dos demais países do mundo, inclusive do Brasil. Pois a RCTV é uma rede de televisão que existe há mais de 50 anos, sempre na linha da desinformação, tal e qual qualquer outra emissora de TV alinhada aos interesses do grande capital. A RCTV, assim como a Venevisión, é uma rede que muito mais funciona como uma corrente de transmissão da ideologia do american way of life do que qualquer outra coisa. Uma máquina de propaganda, como muito bem já analisou o teórico Noam Chomsky. Aqui, no Brasil, poderíamos colocar como análoga a Rede Globo, por exemplo.

Mas, os motivos que levam o presidente Hugo Chávez a não renovar a concessão vão muito além do que uma possível represália, como dizem os parceiros da mídia-irmã, como o Jornal Nacional, da Globo, ou a CNN, braço armado da informação estadunidense. Num extenso documento chamado "Libro Blanco sobre RCTV", o Ministério do Poder Popular para a Comunicação e Informação da Venezuela explica em detalhes os porquês da não-renovação da concessão. Além de mostrar como se conforma o sistema comunicacional no país – monopólico, antidemocrático e concentrador –, o documento esmiúça todas as ilegalidades que a RCTV vem cometendo há muito tempo.

Prazo de 20 anos

Na Venezuela, 78% das estações de televisão estão em mãos privadas, contra 22% do setor público. Na banda de UHF, o número sobe para 82% no setor privado, 11% no comunitário e 7% no público. Seis grandes grupos tomam conta de quase tudo o que o venezuelano vê e ouve – e isso mesmo depois da promulgação da nova lei que regula os meios de comunicação, buscando mais participação comunitária. Os mais poderosos são os da RCTV e o da Venevisión. Juntos, controlam 85% das verbas publicitárias e têm 66% do poder de transmissão.

O grupo que controla a RCTV é o das empresas 1BC, nascido em 1920 e incrementado em 1930 com verbas e tecnologia da RCA. A TV existe desde o início dos anos 50 e tem, hoje, entre seus acionistas, uma empresa com sede em Miami, EUA, a Coral Pictures. Não é sem razão que, segundo estudos do Instituto Nacional del Menor, 67% dos programas transmitidos são de produção estrangeira e metade da programação – cerca de 52% – é de anúncios publicitários. Da programação local, muito pouco representa a vida real do país. Os programas de auditório, as telenovelas e outras produções representam, no mais das vezes, a Venezuela branca e rica. A massa de trabalhadores, os indígenas, os negros, geralmente só aparecem em programas policiais. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência.

A idéia de concessões públicas começou a ganhar corpo na Venezuela no final de 1875, quando o governo se viu diante da necessidade de controlar as riquezas naturais, mais particularmente o petróleo. Depois, essas concessões foram se espraiando para o campo da mineração e das comunicações. Quando nasce a primeira rádio, em 1923, é o estado quem outorga a permissão. Desde então, o governo vem ditando leis para regular o setor. A última delas, antes da lei Resorte, promulgada no governo Chávez, datava de 1941 e dizia que uma concessão não podia durar mais que um ano, sendo renovada apenas se o interessado cumprisse com a legislação. Essa lei só veio a ser atualizada em 1986, através de um decreto presidencial que esticou para 20 anos o tempo da concessão. Passado esse tempo, o Estado pode então revisar o contrato e decidir se a emissora continua com a permissão.

Notícias falsas e censura

Com a Lei Orgânica de Telecomunicações – aprovada em 2000, já no governo Chávez – nasce um novo regime de concessões. Mas essa nova lei garantiu que as autorizações estabelecidas pelo decreto de 1986 e suas respectivas regras fossem mantidas, caso os prazos fossem respeitados. Isso significa que todas as emissoras que tiveram concessão naqueles dias puderam continuar operando, contando, a partir dali, o prazo de 20 anos. Agora, em 2007, esse prazo está esgotado e daí a revisão de cada uma delas, já dentro dos critérios da nova lei. Até aí, nada de ilegal ou de falta de liberdade de expressão. Apenas a correta adequação a uma nova situação, fruto de uma mudança significativa no conteúdo do que seja um serviço público, capaz de "permitir o acesso universal da informação".

Na nova lógica da lei das comunicações venezuelanas, aquele que detém o controle da empresa não é o dono da mensagem. Ele tem por obrigação garantir a pluralidade das vozes, a democratização das idéias e a participação popular. Portanto, na avaliação do governo da Venezuela, a RCTV, terminado o seu prazo de concessão, não atende aos requisitos básicos para continuar gerindo um bem público. E por quê? Porque desde sempre a emissora manteve a política de informar apenas um lado da questão: o que interessa ao grande capital.

Segundo o relatório governamental – disponível na internet –, a RCTV, durante o golpe que tentou tirar Hugo Chávez do poder, difundiu notícias falsas, impediu a fala de pessoas do governo, fomentou a violência, negou-se a divulgar opiniões que eram favoráveis ao governo e não mostrou qualquer ato de mobilização dos partidários de Chávez.

Controle por corte de verbas

Também no episódio da paralisação dos petroleiros, organizada pela Fédecamara (instituição empresarial) e a Confederación de Trabajadores de Venezuela, a RCTV usou atores profissionais e fabricou imagens visando a falsear a realidade e incitar o terror. Naqueles dias, a emissora foi alvo de investigações por parte do governo e todas essas questões foram comprovadas. Não bastasse isso, também foi detectada a evasão de tributos por parte da rede, débitos com funcionários e o uso de imagens de crianças para disseminar o ódio ao governo de Chávez. Todo o dossiê com essas informações está disponível na rede mundial de computadores [arquivo PDF; 8,69 MB]. http://www.mct.gob.ve/nosotros/promoMCT/libro_blanco_RCTV-Web.pdf

O fato é que todos esses argumentos não estão sendo divulgados nas reportagens que são feitas sobre a não-renovação da concessão. Tudo o que se diz é que o governo Chávez está censurando, reprimindo e impedindo a livre expressão. Os fatos acima citados mostram que a coisa não é bem assim. Há que observar todos os pesos da balança.

O pensador estadunidense Noam Chomsky há muito tempo prega que as pessoas do chamado "mundo livre" deveriam ter à disposição um curso de autodefesa intelectual. E ele não diz isso à toa. É por ser um estudioso sistemático do modelo de comunicação estadunidense – o maior criador de ilusões que já se viu e que, não por acaso, estende seus tentáculos por toda a América Latina. Segundo Chomsky, quando o governo dos Estados Unidos fala em democratização da comunicação, esse discurso é totalmente desprovido de significado porque lá o cidadão comum não tem qualquer possibilidade de controle sobre o que é divulgado.

Os únicos interesses que importam são os do governo e os das grandes corporações. Controlam tudo. Quando, por algum motivo, as redes de TV ou jornais, principiam a falar de algum tema que seja contra as políticas governamentais, esses meios são "censurados" pelo imediato corte de verbas. E, ao que parece, não há ninguém na CNN ou na Globo gritando contra isso.


O poder de los de abajo

Nos Estados Unidos, denuncia Chomsky, os interesses das maiorias sempre foram considerados uma "ameaça à democracia" e quem os divulga fica marcado para sempre. Na "terra da liberdade" só têm curso livre as informações que dizem respeito aos interesses nacionais, e aí leia-se: dos bancos, das grandes empresas, do governo. Nada a ver com o povo. A desinformação é o prato do dia, servido sem que nenhum organismo de imprensa se levante em repúdio. Mentiras são divulgadas à exaustão, como a das armas químicas no Iraque, e ninguém pede provas. Pelo contrário. A notícia é disseminada por todos os países e as redes de imprensa a reproduzem como se fosse a verdade absoluta.

"Para os EUA, quando as grandes empresas perdem o controle da comunicação, então aí está uma violação da democracia", diz o teórico estadunidense. E conta ainda sobre uma rede de TV daquele país que, por ter divulgado uma reportagem sobre a compra de terras por multinacionais nos países do terceiro mundo, teve toda a verba publicitária cortada. Motivo: a notícia era antiestadunidense, o que mostra muito bem que as multinacionais têm pátria, sim. Mas, estas informações não chegam ao grande público e ninguém parece enquadrá-las como antidemocráticas ou como uma barreira à liberdade de expressão.

O certo é que aquilo que ameaça ter um cheiro de povo, de uma participação em que o protagonista é o povão, acaba tornando-se altamente incomodativo. As grandes redes na Venezuela, acostumadas a colonizar as mentes da população com um mundo alienígena, começam a perceber que os ventos sopram de outra direção. Enquanto os apoiadores da RCTV aparecem nas telas da CNN clamando pelo direito de verem suas novelas e programas de entretenimento, os que ajudaram a escrever a nova lei de comunicação querem ver brotar uma nova televisão. Que seja capaz de dar conta da pluralidade das gentes venezuelanas, que abrigue produções nacionais, comunitárias, que informe com o maior número de lados da verdade, que forme, que traga os aspectos culturais do seu povo, que assegure a participação popular.

De qualquer modo, essa é só mais uma batalha da luta de classe que se explicita no processo bolivariano. O poder de los de abajo contra as grandes corporações. Um capítulo paradigmático, visto que serve de exemplo para as demais emissoras com concessão a vencer. Na Venezuela, a iniciativa privada pode expressar-se e viver em paz, desde que cumprindo com o que diz a lei soberana, fruto da vontade do povo, pois como se sabe, ali qualquer lei pode ser alterada pelo poder popular. Assim, o que se vê nas telas das televisões dos países amigos dos EUA nada mais é do que a velha jogada ideológica de tirar por diabo toda e qualquer pessoa que não diga amém ao capital. Mas, quem pensa por si mesmo, pode chegar a outras conclusões...

sábado, abril 07, 2007

Pra bom entendedor, meia taça basta!

Gostaria de publicar um artigo que meu amigo Paulo escreveu sobre um fato interessante ocorrido em uma das degustações que participamos.

Segue na íntegra:




O vinho e o tempo
Paulo Sampaio

Certa vez, participei de uma degustação de vinhos bastante educativa, talvez a que tenha me ensinado uma das mais importantes lições sobre o maravilhoso mundo de Bacco. Não que eu tenha aprendido grandes coisas sobre as características organolépticas dos vinhos provados ou sobre as regiões onde foram produzidos. A lição foi bem mais simples, porém, nem sempre óbvia, especialmente para aqueles que encaram o vinho como um modismo. Bom, vamos aos fatos...

O relógio da antiga e charmosa sala marcava 20h30, horário em que pontualmente se iniciavam as degustações em uma das mais tradicionais confrarias da capital paulista. Todos a postos, fichas na mão e, desta vez, também um folheto descrevendo as características de cada vinho a ser provado. Italianos, franceses, argentinos e chilenos comporiam o painel, cuja proposta seria contrapor aromas e sabores do vinho europeu e do sul-americano.

Salvo para os mais entendidos - um grupo de senhores de terninho e gravata que participam dessas degustações semanais há mais de duas décadas -, a idéia ali era beber muito e tentar conhecer um pouco sobre o básico do vinho. A dinâmica desse tipo de evento é bastante simples: os vinhos são servidos, um a um, e, após algumas cheiradas e goladas atentas, o condutor da degustação convida um participante para tecer comentários sobre o vinho, o que invariavelmente é feito - ou pelo menos era até aquele instante - pelos iniciados da gravatinha.

Em determinado momento, quebrando a monotonia do ritual, um rapaz de pouco mais de 30 anos levantou-se e, de forma bastante confiante, prontificou-se a fazer seus comentários. Fiquei surpreso com a coragem do cidadão e, ao mesmo tempo, humilhado! Afinal, apesar de ser contemporâneo do rapaz, eu tinha a mais absoluta noção do meu desconhecimento e da minha incapacidade de pedir a palavra para versar sobre aquele tema, naquele lugar, para aquelas pessoas.

Enfim, o fato é que, surpreendendo a todos e de forma bastante assertiva, o rapaz começou:

- Excelente vinho! Um típico cabernet sauvignon varietal do Novo Mundo!

Sob olhares espantados e antes que o pobre rapaz pudesse emendar qualquer outro comentário, o condutor da degustação, como se houvesse sido agredido, insultado, levantou a voz e exclamou:

- Mas como, se nessa taça que você segura está um italiano com 100% de sangiovese?

Ao receber a surpreendente notícia, o rapaz, visivelmente desconsertado, sentou-se e apanhou o folheto com a descrição dos vinhos da noite, balbuciando qualquer coisa parecida com “ não é possível “ . Todos esperaram alguma explicação; afinal, deveria haver alguma. E havia. Sem o menor pudor, o outrora confiante rapaz confessou que havia se confundido com a ordem dos vinhos e imaginado estar degustando um cabernet sauvignon argentino, cuja descrição, esta sim, era a de um “típico cabernet sauvignon do Novo Mundo “ .

Moral da história: conhecimento é igual a um bom vinho - tende a melhorar com o tempo. Não adianta tentar pular etapas e querer aprender tudo de uma vez. O conhecimento sobre o vinho precisa de tempo para evoluir, assim como a própria bebida. O bom aprendiz, neste caso, é aquele que, humildemente, bebe, bebe, bebe; e ouve o que têm a dizer aqueles que já beberam muito mais - eles mesmo, os da gravatinha.